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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Por dentro do Wikileaks 2: muito além do furo



Por Natália Viana via Opera Mundi

Não foram poucas as discussões sobre como publicar os 251 mil telegramas das embaixadas norte-americanas – sempre acaloradas e cheias de contrapontos, como é o processo decisório para cada passo dado pelo Wikileaks. 

O grupo envolvido no projeto sabia que tinha em mãos um material muito diferente dos anteriores. Para quem não sabe, o Wikileaks já tem um bom tempo de estrada, e já publicou documentos seríssimos – desde denúncias contra a máfia russa até os famosos arquivos do Afeganistão. 

Mas desta vez o mais importante na visão de Julian Assange era o alcance – os documentos dizem respeito a quase todas as populações do mundo – e a importância dos documentos. 

Eles são muito mais do que uma simples denúncia sobre como os EUA atuam no mundo e que tipo de sujeira eles podem estar envolvidos. São um contundente documento histórico que deixa exposta a essência de uma era. 

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Juntos, eles constroem uma narrativa de como a superpotência vê e atua em um mundo em mutação. Através deles, se pode ver de perto a narrativa diplomática sobre duas guerras falidas, uma guerra contra o terror igualmente fracassada, uma crise financeira como poucas na história, o início de uma nova ordem mundial com uma multiplicidade de nações surgindo como importantes atores globais. 

Retratam, de dentro, as diferenças e semelhanças entre o governo de Bush e o de Obama. E refletem também uma crise ambiental sem precedentes, mostrando como os EUA atuaram ou deixaram de atuar por sua causa. 

São o retrato de um império em decadência. 

Como em lançamentos anteriores, o Wikileaks avaliou que precisava de parceiros de peso para dar substância ao material em um primeiro momento. Por isso os cinco grandes veículos - Le Monde, El País, The New York Times, The Guardian e Der Spiegel - foram contatados, e entraram na parceria com exclusividade. 

São jornais reputados que têm a estrutura necessária para processar essa enormidade de informações e produzir reportagens a partir dela. 

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Além disso, somente através desses parceiros, já conhecidos do Wikileaks, a organização poderia se certificar de que todos os telegramas que forem publicados – todos – irão passar por um rígido controle de redação final. 

Cada jornal é obrigado a editar os documentos e retirar os nomes de pessoas que possam sofrer risco por causa do conteúdo dos documentos. Essa é uma preocupação central da organização. 

Mesmo assim, estava claro que para eles o mais interessante seria os “furos”, o pote de ouro no fim do arco-íris do jornalismo mainstream. 

Para equilibrar um pouco a cobertura e evitar uma corrida desenfreada pelo “furo”, o Wikileaks conseguiu negociar uma programação de matérias que serão publicadas ao longo das semanas por esses jornais. Assim, o conteúdo é melhor aproveitado e notícias de tamanha relevância podem ser digeridas por mais tempo. 

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Além desses cinco veículos, o Brasil é o único país que tem tido a oportunidade de conhecer o conteúdo dos telegramas provenientes da sua embaixada e consulados. Isso porque o Wikileaks considera o público brasileiro como grande aliado. O Brasil tem um enorme número de internautas e um dos movimentos pela liberdade na internet mais ativo do mundo. 

Por isso, a organização resolveu criar uma forma de comunicação direta com ele. Dessa forma, fui convidada, como jornalista independente, a colaborar com o projeto. 

Ao longo da última  semana, produzi algumas matérias em português no site para que o público pudesse ver como esse material é rico. Ao mesmo tempo, em parceria com a Folha de S. Paulo, esse material pôde chegar impresso em tempo real para os leitores brasileiros. 

Segunda fase 

Esta semana começa a segunda fase da divulgação. Agora, o Wikileaks vai trabalhar em parceria com dois dos maiores jornais do país – a Folha e O Globo – por meio de dois grandes repórteres, que buscarão dar o tratamento adequado ao material. 

São centenas de histórias que merecem tempo, apuração e faro para serem bem escritas, e como o Wikileaks é uma organização pequena (embora grande), não tem condições de realizar todo o jornalismo sozinho. Contamos com os dois jornais para nos ajudar a narrar essa importante história. 

Ao mesmo tempo, o site do Wikileaks continua com matérias de minha autoria em português em seu site. Todas elas, de acordo com a filosofia da organização – com a qual concordo – são licenciadas como creative commons. Usem, reproduzam e espalhem à vontade. 


*Natália Viana é jornalista e colaboradora do Opera Mundi 

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